quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Hábitos e Metafísica

Todo mundo que me conhece (bem) sabe que o meu lugar à mesa em casa pode ser detectado pelo farelo ao redor do prato. Tenho uma extrema dificuldade de me servir sem deixar que algo seja derramado no caminho. Açúcar no café, leite em pó no nescau, farinha de trigo no bolo...

E quando eu ponho a mão na massa então, nem se fala. Adoro cozinhar, mas toda aventura culinária é bem vinda quando eu tenho tempo e saco de limpar os rastros depois. Ou quando posso delegar a limpeza para os kitchen´s-aliens [quem não liga de limpar, é bem vindo pro jantar!].

O noivo caipira é cheio de "na minha casa isso não vai ser assim, na minha casa isso não vai ser assado", então peço que desenvolva uma câmara de culinária com superfícies aspirantes. Um mega-depurador de resíduos, que vá sugando tudo que eu derramar em mesas, bancadas, fogão e afins...

Um padrinho meu constantemente me defende, alegando que cercear meu direito de sujar a cozinha é tolher minha liberdade criativa, e que isto pode influenciar no sabor e criatividade de meus pratos. Não posso concordar mais.

Não é fantástico quando alguém surge com uma razão metafísica inquestionável para justificar algo que se torna, então, um ex-defeito?

Será que foi uma estratégia de padrinho-wannabe?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Mudando de vizinhança

Eu sempre morei no mesmo lugar.
Nunca me mudei – só temporariamente – conheço só de longe o terror da mudança. E agora me vejo frente a uma mudança que me tira da “casa, comida e roupa lavada” e me torna “casa, comida e roupa lavada”.
Meus amigos de infância moram no meu bairro, que é também onde ficam minha escola, meu ballet, meu inglês, meu salão de beleza a padaria favorita e o shopping querido onde gastei tantas tardes de minha adolescência. Até a minha faculdade fica a 2 km de minha casa.
E agora vem a globalização do meu mundo. Vou migrar. Sairei de um país natal para um território hostil, desconhecidos, cujas relações diplomáticas com o meu são ainda incertas.
Virão novas ruas, novos nomes de prédios, novo salão de beleza, nova padaria, nova escola de dança, e principalmente novos vizinhos.
Vou do Oiapoque ao Chuí.
Felizmente, tenho me familiarizado com a área.
E os “Chuíanos” são um povo hospitaleiro, estão ansiosos por minha chegada. [É sim, isso mesmo – padrinho se escolhe, vizinhos vêm de brinde ]
Tirando o drama, eu sempre busquei novas casas em outros países.
Talvez seja a hora de encontrar o meu lar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O Bingo dos Padrinhos


Deparamo-nos, nós dois, eu e meu futuro digníssimo com a difícil tarefa de escolher os nossos padrinhos de casamento. Afinal, noivar é escolher.
A casa, os móveis, o marido, a igreja, a religião, o buffet, o padre... E os padrinhos.
É chato como escolher um tio preferido. Como escolher para quem vai a primeira fatia do bolo. E tem pai, mãe, irmão, tio palpitando de todo lado.
“Não escolha padrinho pobre” é o conselho menos válido de todos.
Aloooow, não é um paraninfo, é um padrinhooo.
Se bem que casamento podia ter paraninfo, patrono, e todas aquelas enrolações típicas de comissão de formatura que quer mais dinheiro do que tem.
O meu foi dividido em cotas, mas estou apostando mesmo no paitrocínio completo.
Se fosse pela minha vontade, casava na Concha Acústica e colocava o convite numa rota nobre de outdoor: “Venham todos que de alguma forma desejam felicidade aos noivos”.
E separava as três primeiras fileiras da arquibancada pros padrinhos.
Afinal, são tantos queridos envolvidos com meus preparativos que dá vontade de ser “apadrinhada” por todos eles, e assim homenageá-los.
Voltando ao tema do post (eitaa prolixidade), tivemos uma brilhante idéia.
Já que casamento junino permite (quase) tudo, vamos fazer um almoço com todos os padrinhos “wanna be” e fazer um bingo.
Cartela rosa pras moça, cartela azul pros cabra, e bolinhas girando no globo. Fechou a cartela, BINGOOOOOOOO!!!!
é padrinho!!!
A idéia é linda, me sinto profundamente tentada por ela.
Seria uma boa oportunidade de reunir um monte de gente que eu amo antes do casamento. Mas logo me estimulou a pensar nas formas de manipular o bingo. Dar cartelas com números que não tem no globo pra quem eu chamei por consideração, pôr imãs nas bolas de número das cartelas das melhores amigas...
E repensamos. E decidimos escolher. E apesar de um casório na roça permitir duas dúzias de padrinho, conseguimos a façanha de escolher 4 casais.
Parentes, fora, que já sabem que moram em nossos corações.
Minhas madrinhas, padrinhos dele, pareados por altura.
Esperamos que nossa escolha seja certeira.
Que nossos padrinhos se sintam honrados, que encham nossa casa de alegria com suas visitas e que gostem de comer miojo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Saindo da barra da saia da mamãe



Definitivamente, minha experiência de noiva confirma o que as casadas já sabem: mãe muda quando a gente anuncia o casamento.

Dizem que quando a gente sai de casa é que viramos a melhor filha do mundo. Felizmente a maioria dos seres humanos tem a grande tendência de se lembrar do que era bom, o passado é bonito, florido, difícil mesmo é viver o presente.

Pais são certamente seres nostálgicos, e adoram lembrar da gente quando era bebê, quando era criança, quando falava errado. E adoram contar a mesma história para as visitas que encontram um porta-retrato no aparador (pode reparar, aparador de mãe com filho criado vira túnel do tempo fotográfico).

Por mais que afirmem, do auge de seu estado psico-analisado “Criei para o mundo, e não para mim”, na hora do vamos ver ninguém quer entregar a filhinha ao implacável mundo cruel de mão beijada.

É um pouco de dor de perda antecipada, como se a gente fosse embora e não fosse voltar mais. E a gente vira bebê de novo, cheio de mimos.

Aí antes de todo mundo comer ela separa seu almoço. Você chega em casa e tá tudo prontinho, arrumadinho, lanche diferenciado na mesa, suquinho de caixinha “e uma maça para comer no meio da manhã”. E viro diminutivo: a filhinha bonitinha queridinha.

Não fico cansada, fico cansadinha, com fomezinha, doentinha...
Adoooro. Adoro mimos e atenções.

Ninguém me convence de que há alguém que não adore isso, mesmo que empurre a mãe quando ela dá aquele abraço apertado ou aquele beijo babado do nada, no meio da cozinha:

“Saaaai mãe. Páara.” (só pra não perder o hábito mesmo).

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Noiva sim, mas só até o casamento!!!

Eu tenho gastado tantas e tantas horas de meu dia em ser noiva, que eu precisava dividir isso com alguém. Eu estou investindo minhas energias num estado extremamente transitório da minha vida: ser noiva.

Sempre anunciei em trombones que noivado para mim é simplesmente um estágio pré-casamento. Não acredito em noivados de 3,4,5,6 anos. Isso pra mim se chama [enrolação] compromisso.

Quem namora é namorado, noivos são pessoas que estão fazendo os arranjos para o casamento (embora, obviamente muita gente noive para diversos outros fins, pessoas essas de quem sinto dó...)

Noiva é como grávida. Você não é, voce está.
E vai deixar de estar em breve (se for inteligente).

E assim como estar grávida exige uma postura de pró-atividade constante, porque demanda atenção constante e cansa. Sou a favor de um projeto de lei que dê, inclusive, licença-noividade. São muitas coisas para ver, analisar, selecionar, experimentar... quase não sobra tempo para ser outra coisa!!!

E são muitas as situações semelhantes entre noivas e grávidas também (olha as que pude identificar):
"Estou com sono demaaais" (gastei minha noite imaginando meu casamento)
"Minhas roupas não dão mais em mim" (minha ansiedade é um par de vermes famintos)
"Minha bolsa estourou!!!"(lá se vão minhas economias!!!)

Casamento é como um bebê: toma tempo, toma dinheiro, estressa, mas certamente deve nos fazer muito feliz. As vezes me sinto como uma mãe: culpada em não dar atenção suficiente a meus preparativos. As vezes sinto que estou me desgastando demais com isso. As vezes fico muito feliz de cuidar de cada mínimo detalhe do processo.

E como saber se estou fazendo as escolhas certas? Como qualquer coisa na vida: experimentando!

Então tenho me ocupado de ser. O que é bastante divertido. Adoro me ocupar de minhas metas, principalmente quando elas têm sucesso em curto prazo. Fato é que assumo assim que noiva não é um ser, mas um adjetivo que determina transitoriedade. Sendo assim, não deveria diz "estou noiva" ao invés de "sou noiva"?